Vila Velha (ES) – A Romaria dos Homens teve início às 18h deste sábado, 26 de abril, na Catedral de Vitória, com Missa de envio presidida pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória, Dom Andherson Franklin Lustosa de Souza, concelebrada pelo Guardião do Convento da Penha, Frei Gabriel Dellandrea, além de outros sacerdotes e diáconos. Logo após a celebração e a bênção de envio, a multidão partiu em caminhada. Dom Andherson e Frei Gabriel fizeram questão de caminhar juntos, lado a lado, com sinal da unidade entre a Arquidiocese de Vitória e a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil no cuidado desta imensa manifestação de amor e carinho a Mãe de Deus presente na história e no coração do povo Capixaba. Chegando à sua 70ª edição em 2025, a Romaria é tradição que passa de pai para filho, atravessando gerações. Também já se tornou com o passar dos anos, a “Romaria da Família. Neste ano, traz como proposta de reflexão a temática “Com Maria, peregrinos de esperança”. Para percorrer este caminho, neste ano estamos propondo alguns marcos de referência, aos quais denominamos “15 Lições da Romaria dos Homens” e que, esperamos, possam ajudar os leitores a uma experiência de aprofundamento na fé e na esperança.
Todos somos peregrinos de Esperança
A esperança nos lança para frente. Peregrinar é, necessariamente esperançar. Seguir com o coração cheio de expectativas e sonhos, carregando alegrias, desejos, gratidão e também aflição. Peregrinar pode ser deixar para traz uma situação de medo ou de opressão. Ou dirigir os próprios passos numa busca de um importante progresso. De qualquer forma, a esperança sempre impulsiona o peregrino na direção de uma vida melhor. Esta é a verdadeira experiência pascal. Participar da Romaria dos Homens é mergulhar num mar de esperança e deixar-se conduzir pela graça de Deus.
Maria é peregrina entre os peregrinos
A Imagem de Nossa Senhora da Penha vem entronizada sobre o célebre “Penhamóvel”, modelo único e exclusivo, marca registrada da Festa da Penha. Sempre muito enfeitada com muitas flores e iluminada, destaca-se no meio da multidão, mas não fica parada. Caminha junto com o imenso número de filhos e filhas que vêm homenageá-la neste percurso de 14 quilômetros. A multidão pode chegar a um milhão de fiéis e devotos. As pessoas são extensão das flores que enfeitam o belíssimo andor. Cada caminhante é uma flor única e bela no Jardim de Nossa Senhora, que nunca se furtou em caminhar na companhia de seu povo. Na condução segura da Virgem, também conduzidos por Ela, os muitos voluntários da Corrente da Penha, incansáveis guardiães de Nossa Senhora neste percurso e em toda a movimentação da Imagem Peregrina durante a Festa da Penha.
A vida é peregrinação
Viver é manter-se em constante movimento. É dinâmica mesmo para quem se sente parado ou estagnado. Cada novo dia que acordamos somos diferentes do que éramos do dia anterior. Estamos mais próximos da morte e mais distante do nascimento. No entanto, morremos e renascemos todos os dias. O caminho às vezes mais conhecido e tranquilo. Em outras ocasiões, apresenta algumas surpresas, torna-se mais inclinado ou acidentado. O cansaço chega e o desânimo ameaça bater às portas. Mesmo que haja algumas paradas necessárias, breves e estratégicas, seguir caminhando é sempre a melhor opção. Ninguém deve estacionar diante de frustrações, mágoas ou decepções. Nestes casos, vale a máxima da famosa canção: “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.
É de pequeno que se aprende a peregrinar
A Romaria dos Homens se tornou, há muito, a Romaria das Famílias. No entanto, manter o nome é importante, pois tem forte valor afetivo e confirma uma saudável tradição. Muito bonita a participação que se aprende de geração em geração. Não são poucos os que dizem ter sido introduzidos na prática pelo pai ou pelo avô. São muitas as crianças, de todas as idades: no carrinho de bebê, no colo, sobre a nuca do pai. Imbuir nos filhos, desde a infância, o carinho e a devoção a Nossa Senhora é mais do recomendado aos pais. É um dever de quem é cristão batizado, é apresentar àqueles de quem somos responsáveis um tesouro que vale mais do que qualquer quantia, o tesouro da fé e do amor. Parabéns aos pais que, desde cedo, educam seus filhos para a fé e a devoção.
Peregrinar é exercício de paciência
Sozinhos com certeza faríamos o percurso bem mais rápido. A multidão não anda tão depressa. Às vezes o caminho é interrompido por alguém que desviou de um buraco ou de um ressalto no piso, por um senhor idoso com dificuldade de locomoção, com a mãe que empurra a cadeira de rodas de seu filho especial. A Imagem Peregrina também passa por percalços, como os balanços do Penhamóvel e os fios nos postes mais baixos, levantados com uma haste que é levada pelos voluntários da Corrente da Penha e utilizados em momentos de necessidade. Cada interrupção ou desvio pode ser um bom exercício de paciência, de perceber que nem sempre a vida e coisas caminham no ritmo mais adequada para nós e que há momentos em que diminuir a marcha se faz necessário. Paciência na família, no trabalho, no trânsito, na vizinhança, com as crianças, com os idosos, é sempre uma virtude útil e necessária. Paciência também na Romaria dos Homens.
Ninguém é peregrino a sós
A Romaria dos Homens é sinal forte desta verdade, ao reunir em torno de um milhão de fiéis caminhando na mesma direção. Mesmo quem não se conhece, aqueles que nunca se viram, tornam-se companheiros de caminhada. Além dos caminhantes presenciais, que gastam a sola do tênis e derramam suor, muitos outros são levados no coração por estes mesmos caminhantes, vivos e falecidos. O pai que trazia o pequeno romeiro para a caminhada e agora não pode vir por conta da saúde agora participa com as pernas do filho, já um adulto, trazido no coração. A mãe enferma, o companheiro ou companheira que vai prestar um concurso, a irmã com dificuldades no casamento, todo mundo caminha acompanhado por muitas pessoas no coração. Incluem-se também os milhares de caminheiros e caminheiras que, graças ao “milagre da tecnologia”, fazem a Romaria virtualmente, ao vivo, para todas as partes do planeta, pela internet. Nesta grande família virtual, a Festa da Penha se faz ponto de encontro para capixabas espalhados pelo mundo inteiro.
Em diferentes estágios, mas todos peregrinos
A multidão é imensa. Enquanto um grande grupo já atravessa a Segunda ponte, outros ainda estão próximos à Catedral. Na extensa Avenida Carlos Lindemberg, a multidão toma todas as pistas. No entanto, a Romaria não é corrida nem competição. Desta forma, todos, quem está no começo, no meio ou no fim, quem começou a caminhar a partir da Catedral ou se somou ao grupo num ponto mais adiante, não importa, são todos peregrinos e peregrinas, e Maria caminha em companhia de todos.
Um bom remédio para o cansaço é olhar para o Horizonte
Mais do que normal haver momentos de cansaço. O percurso é longo, parece que o destino não chega nunca. Os pés começam a queimar, os joelhos a doer, as mãos a inchar. A vontade de desistir chega passar pela mente, mas não atinge o coração. A certeza de que Maria caminha junto ao povo, de que a chegada vai ser bonita de se ver e de que ninguém está sozinho e um dá força para o outro, fazem o fiel devoto seguir em frente. Próximo ao Centro de Vila Velha, pode-se enxergar o Convento à distância, iluminado, ao alto, comunicando-nos que o céu e a luz são a nossa meta, o céu é nosso horizonte. Saber para onde vamos nos dá força para seguir em frente.
Se houver algum esbarrão ou tropeço, o melhor é seguir peregrinando
A multidão é imensa. Os esbarrões, inevitáveis. A caminho acidentado, com pedras e buracos, facilita os tropeções. Alguns podem até cair, mas sempre há alguém que ajude a levantar. Importante perceber que estas quedas e imprevistos não representam um ponto final no percurso, apenas uma pequena vírgula. Seguir em frente é necessário. Os pequenos arranhões fazem parte do caminho que se faz caminhando.
A Romaria é um caminho de luz
Os fiéis trazem velas. A imagem de Nossa Senhora é iluminada. Ao alto, o Convento também se destaca por uma iluminação especial. Jesus Cristo é a Luz que a Mãe de Deus refletiu e que também nós somos chamados a refletir. Nosso testemunho certamente tem a força de iluminar o caminho de irmãos e irmãs que, por razões diversas, podem estar perdidos nas trevas da insegurança, do medo e da solidão. Apresentar-lhes a Luz de Cristo é um enorme bem que podemos fazer a eles.
Tão importante quanto chegar, é caminhar
Todos têm uma meta. Sabem onde desejam chegar. Também têm a consciência de que só chegam se caminham. No percurso, a esperança é combustível que faz seguir em frente e, alcançada a meta, chega-se à conclusão de que cada passo faz parte do processo, assim como cada conquista e dificuldade. Ao final, quem chega, chega cansado, mas também transformado e feliz. Na vida, a sabedoria de viver os processos com intensidade e sem pressa
Ao final do percurso, Jesus e sua Mãe nos esperam
Cristo é meta e também companheiro, assim como sua Mãe, a Senhora das Alegrias. A imagem de Maria com o Menino ao colo transmite ternura e proximidade. É lindo chegar ao Parque da Prainha, na certeza de que Jesus e Maria caminharam conosco, assim como é emocionante acompanhar a entrada da imagem, entronizado no palco onde está o altar. O coração é tomado por grande paz e alegria. O cansaço parece até que fica para traz. É como se cada um dissesse dentro do coração: “Querida Mãe das Alegrias, foi muito caminhar em sua companhia e de seu querido Filho. Desde o início eu sabia que não estava só. Que esta romaria seja espelho de minha vida diária, na qual desejo sempre contar com sua materna presença”. O fim da Romaria é uma espécie de prenúncio do que, nós cremos, viveremos no céu.
Cada romaria é uma nova romaria
Este ano a Romaria dos Homens completa 70 anos. É muito comum encontrar devotos que já participaram por 10, 20, 30 ou mais edições seguidas. No entanto, são praticamente unânimes em afirmar que cada Romaria traz uma nova emoção, como se fosse a primeira. É o milagre da fé que se multiplica e se renova quando cultivada com dedicação e fidelidade. Que Nossa Senhora proteja sempre seus romeiros e que eles possam repetir esta experiência divina por muitos e muitos anos seguidos.
Atenção àqueles que param no caminho
Quem caminha sozinho pode caminhar mais rápido. Mas quem caminha com os irmãos e irmãs, com certeza chega mais longe. A Romaria dos Homens também é chance de os caminhantes se apresentarem como “bons samaritanos” uns dos outros. Se um anônimo se fere, se perde, se cansa, cai ou para à beira caminho, é hora de ajudá-lo, oferecer auxílio, colocar-se à disposição. É momento de ser presença de Deus na vida do outro, verdadeiro anjo da guarda que não mede esforços para que outro esteja bem, possa se recuperar para seguir em frente.
Peregrinação é experiência de Cuidado
A Mãe que ama e cuida de seus filhos e filhas também é cercada de carinho e proteção pelo Povo de Deus. Esta rede de cuidados e de apoio deve fazer parte do itinerário cristão que escolhemos trilhar. Os olhos estão voltados para horizonte e para o céu, mas também atentos aos arredores. A atitude de cuidado de uns para com os outros também deve se estender com o cuidado do caminho. Não jogar garrafas plásticas, copos, folhetos, proteções de velas no chão é exemplo que os romeiros devem dar. Sempre podemos melhorar nesta direção. O cuidado uns com os outros e com nossa Casa Comum é compromisso indispensável em nossa peregrinação.
Aberta com a celebração eucarística da Catedral de Vitória, a Romaria se concluiu depois da meia-noite, reunindo a multidão no Parque da Prainha, com a missa presidida pelo Arcebispo de Vitória, Dom Ângelo Ademir Mezzari. Foi sua primeira celebração como Arcebispo na Romaria dos Homens. O Cristo que se entrega na Palavra e no Pão está no início e no fim desta Romaria que o povo capixaba realiza há 70 anos como sinal de fé, devoção e carinho a Nossa Senhora da Penha, a Mãe das Alegrias.
Equipe de comunicação da Festa da Penha:
Frei Augusto Luiz Gabriel, Frei Gustavo Medella, Frei Roger Strapazzon